Correspondência entre mundos na fila do supermercado

Enquanto procurava maças no supermercado – tenho comprado aquelas pré-selecionadas que vêm nos saquinhos com desenhos da Turma da Mônica –, refletia sobre a relação entre as minhas emoções e o meu destino. Lembrava de um passado não tão distante, quando meu controle emocional era menor, e percebia que geralmente a má sensação era seguida de algum acontecimento desagradável, coincidências significativas que os junguianos chamam de “sincronicidade”. Agora, porém, mais consciente do meu mundo interno e de sua relação com o exterior, não conseguia notar as sincronicidades “positivas” com a mesma frequência de antes, com as “negativas”.
Faço aqui um parêntese para contextualizar o leitor. Uma ideia comprovada pela minha experiência é a de que não se deve deixar os pensamentos soltos a vagarem pelos labirintos selvagens da mente, pois eles costumam levar a psique ao caos. Para evitar isso, recorri à estratégia de, ao flagrar-me pensando bobagens, engatar alguma oração ou mantra para assumir o controle da situação. O plano deu certo e, no último ano, passei a sentir-me mais leve e centrado. Mas a questão no supermercado era: por que não percebia acontecimentos externos relacionados à nova postura mental com a mesma frequência de antes?
Maças na cesta, fila do caixa, senhoras de máscara no rosto (como todos ali), olhos ansiosos e assustados, certamente entregues aos pensamentos catastróficos cultivados pelos jornais nacionais da vida, flagrei-me pensando sobre o quão suscetíveis somos aos comandos do sistema, que em questão de semanas é capaz de mudar hábitos cultivados há gerações. Provavelmente, nunca mais lidaremos com a proximidade do outro da mesma forma; estabelecimentos comerciais serão mais privativos, os delivery’s incentivados, a vida virtual mais intensa, menos olho no olho, menos toque… e as organizações internacionais terão o argumento perfeito para dizerem: abaixo às soberanias, precisamos de um imposto internacional, que venha o governo global!
Tão logo notei ligeiro mal estar relacionado aos pensamentos que me ocorriam, passei a mentalizar a oração da Ave Maria e, em fração de segundos, meu pescoço moveu-se para o lado superior direito da parede, fixando minha atenção no quadro de Nossa Senhora de Aparecida trajando seu manto azul. Claro, era uma resposta para o meu questionamento anterior; uma sincronicidade, ou seja, uma coincidência entre a oração, subjetiva, e a imagem, objetiva. Notei algo interessante: eu não havia olhado intencionalmente para o retrato, não tinha pensado algo do tipo: vou olhar ali pra ver a imagem; meu pescoço simplesmente virou-se de maneira automática no rumo exato do quadro e meu foco ocular ali permaneceu, possibilitando-me tirar algum significado daquela correspondência.
Você, leitor, já percebeu o quanto isso ocorre de maneira frequente? Parece haver uma consciência que transcende os sentidos físicos, capaz de assumir o controle do aparelho motor humano para mostrar à nossa instância mais racional, digamos, aquilo que precisamos saber. “Orai e vigiai”. Não seria então a Sabedoria o cultivo da capacidade de rendermo-nos a essa esfera superior e confiarmos a ela a condução da nossa vida? Essa foi a hipótese que formulei naquele momento e, tão logo admirei a ideia, mais uma vez, a minha cabeça foi direcionada para a mesma direção, logo abaixo da foto da santa, novamente sem que antes tivesse atentado ao significativo detalhe: um quadro com a imagem de uma rosa dos ventos logo abaixo à figura da santa trazia ao centro a palavra “Fé”.
É claro – agora percebo – tratava-se da resposta ao meu questionamento minutos antes sobre a ausência de “sincronicidades positivas”, assim digamos. E o significado disso, uma confirmação de uma conduta que adoto há década: de confiar mais na minha fé e intuição do que nas notícias externas. A comunicação institucional no mundo (as grandes redes de tevê, rádio, jornais, via de regra) há muito deixou de ser meio seguro de informação e tornou-se instrumento de engenharia social nas mãos das elites. Nesse contexto, a melhor forma de orientar-se no mundo é desenvolvendo e seguindo a Sabedoria, o contato íntimo com os seres de luz e o estado de alerta aos sinais presentes em todos os momentos.